12/03/2007

QUALQUER COISA DE MUITO MAU

Passo a explicar o meu estado de espírito de ontem à noite, quando decidi sair de Bhopal sem sequer me dar ao trabalho de dar uma vista de olhos pela cidade. Rapidamente, porque as más energias não são para aqui chamadas.

O comboio entre Jalgaon e Bhopal: desconfortável, muito stressante, viajei “clandestino” num compartimento cheio de army-wanna-bes, que estavam a voltar de umas entrevistas e testes para o Exército, em Bangalore, e todos tinham reprovado. Imagine-se o ambiente. Entre algumas conversas porreiras – mais para o fim da viagem –, tive o azar de me sentar ao pé do indiano mais intragável dos últimos tempos.

Entre outras barbaridades, teve a lata de afirmar que Portugal era um país sem Cultura, sem História, sem Tradições. Disse-me que já lá tinha estado – mas era mentira, nem me sabia dizer onde. Disse só por dizer, só para se armar, só para me picar. Não quero saber: dos teus falarás, dos teus não ouvirás. É assim que diz o ditado, não é? Qualquer coisa do género. Por outras palavras: falas assim do meu país e levas logo uma liçãozinha de História – aliás, muito apreciada pelos outros indianos à volta. E como se não bastasse a aula, eis que saco do meu trunfo, um livro de fotografias de Portugal comprado à última hora numa loja de souvenirs da Rua Augusta...


...e giro, giro foi ver os ex-futuros-militares a suspirarem pelo nosso cantinho à beira-mar plantado.
Estação de comboios de Bhopal: um nojo. A pior de sempre, um mar de gente a dormir no chão (eram quase duas da manhã quando cheguei), um cheiro podre a merda-suor-mijo-chulé, eu à procura de espaço onde pousar os pés, para conseguir atravessar o hall. Crianças a chorar, velhos a gemer, ratos a passear entre as pessoas – e não digo mais porque não quero chocar ninguém.

“Full”, foi o que me disseram em cinco hotéis. Em alguns casos, claramente mentira. Mas também não sei dizer porquê. Estava prestes a desesperar, eram duas e meia da manhã e ninguém me dava um quarto, e quando finalmente encontrei um lugar onde ficar, o senhor da recepção aproveitou-se da hora e do meu estado para me cobrar quase três vezes mais do que é normal por um quarto. Eu não refilei, só queria uma cama, só queria um tecto.

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