09/11/2012

36 RUAS

Hoje de manhã fui dar uma volta pelo centro histórico da cidade. Faço-o quase todos os dias, às vezes um passeio maior, outras vezes mais curto - mas antes de um novo grupo chegar, é garantido: parto para um "reconhecimento do terreno" e tento fazer mais ou menos a mesma volta que estou a planear dar a seguir.

O Bairro Antigo de Hanói é conhecido pelas "36 ruas" - mas não tem 36 ruas. Tem mais. Não sei quantas, mas tem mais. O número 36 explica-se, na verdade, com o significado de outros dois números.

O número 4 está relacionado com os Pontos Cardeais: Norte, Sul, Este, Oeste.

O número 9 representa plenitude.

4 vezes 9. Todas as direcções.

Esta cidade nasceu aqui, neste trinta e seis, nasceu das pessoas que vieram de Todo o Lado, porque os seus ofícios eram úteis aos imperadores, numa primeira fase - e depois uns aos outros. Estabeleceram-se em grupos, a cidade cresceu, e ainda hoje, Hanói é uma mistura de etnias e influências, raramente identificadas pelos estrangeiros, que normalmente não vão muito mais além dos olhos em bico.

As ruas ainda têm os nomes dos ofícios. E apesar do sistema já não ser tão rígido quanto antigamente, ainda há muitas onde existe um "tema" predominante.

No Tet (o Ano Novo vietnamita), uma coisa é garantida: as ruas ficam desertas. Estas pessoas que vieram de Todo o Lado, para lá regressam. Para os seus bocadinhos de Todo o Lado. Passear em Hanói, na semana do Tet, é uma experiência absolutamente... estranha?... única?... nem sei como descrever.

Mas hoje foi um dia como outro dia qualquer. As motas zumbiam como abelhas numa colmeia caótica, os cheiros entrelaçavam-se uns nos outros, como os cabos de electricidade nos postes. O chilrear dos passarinhos dava-me a sensação que a cidade assobiava - e lá fui, dar uma volta, aventurando-me pelos quatro Pontos Cardeais - não porque estivesse perdido, felizmente já me oriento bem neste labirinto disfarçado de cidade, mas porque na próxima segunda-feira, quando estiver a passear com o grupo, é por aqui que vou andar.

Comecei por esta espectacular árvore que tem um templo atrás - o mesmo templo que lhe é dedicado.

Ao chegar ao Lago Hoan Kiem (o Lago da Espada Devolvida), encontrei um grupo de estudantes de Belas Artes a desenhar a famosa Ponte da Luz da Manhã. Parei por um bocadinho a contemplar a bucólica imagem, tirei umas notas - e voltei à acção.

Nas três horas seguintes, serpenteei por entre motas estacionadas nos passeios, pessoas sentadas em bancos de plástico rentes ao chão, condutores de riquexó a perguntar se eu queria boleia para o mausoléu, ou apenas dar uma volta, "special price for one hour". Constantemente atento ao trânsito que me beijava calcanhares, cotovelos e ombros, lá fui tirando umas notas, lá fui fazendo umas fotos, às vezes surpreendido com alguma mudança inesperada, outras vezes com um pormenor que se mantém inalterado desde que para cá venho.








Esta cidade desafia conceitos, como já tinha dito num post do início do ano. É uma cidade harmoniosamente caótica, onde as buzinas das motas competem com o chilrear dos pássaros, onde o séc. XXI convive paredes meias com todos os tempos que o precederam.





3 comentários:

Unknown disse...

Que saudades... de percorrer essas mesmas ruas.. atrás de ti.. está quase a fazer um ano.
Bons passeios Jorge.
Beijinhos

Clara Amorim disse...

Um must-see/visit bairro, sem dúvida!!!

Adoro a Ásia disse...

Hanoi é uma das minhas cidades favoritas. Parabéns pelas imagens e pela forma como descreves o que vês e o que sentes.