09/08/2013

O PRIMEIRO COMBOIO (TAKE 4)

Aproveito a pausa de cinco horas em Novosibirsk para pôr em dia o blog. Até porque não sei se vou ter internet na próxima paragem, no Lago Baikal. Normalmente o sinal é muito fraco - quando existe.

Assim sendo:

Já lá vão dois dias sobre carris, desde que arrancámos. Foi na quarta-feira ao almoço, com direito a um momento de tensão logo a abrir. Tínhamos reunido as mochilas no meio da estação, uma vez que a plataforma de onde ia partir o comboio ainda não estava atribuída. Dei "ordem de soltura" aos doze viajantes, por meia hora, e quando voltaram ao meu encontro já estava o comboio a chegar à estação.

"Plataforma Um!", avisei em voz alta várias vezes, e a mensagem foi passando entre todos. Arranquei quando estávamos todos prontos e qual galinha com os seus doze pintainhos, avançámos entre a densa floresta de pessoas e cheiros, em direcção à mencionada plataforma.

Qual não foi a minha surpresa quando o telefone começou a vibrar dentro do bolso. Atendi e era um dos aventureiros, tinha-se perdido.

"Mas onde está?"

"Estou ao pé da Plataforma Quatro..."

Desato a correr pela estação, repetindo as orientações dadas logo ao início. Faltavam dez minutos para a hora de partida, e muito sinceramente não estava preocupado - mas tinha onze pessoas à espera, sem saber muito bem o que estava a acontecer.

Tudo se resolveu como tinha de ser resolvido, entrámos no comboio e partimos cheios de calor, depois das emoções fortes e correrias, e porque hoje o sol não tinha feito folga, e porque dentro da carruagem o ar condicionado não estava a funcionar.

Passaram-se quarenta e oito horas, entretanto. Já fizemos amizade com metade do comboio, já nos começámos a conhecer melhor uns aos outros, às manias e feitios, já temos piadinhas privadas, tem sido intenso e muito produtivo. Houve tempo para ler e escrever, para ver filmes projectados num lençol a partir de um "pin hole" montado na janela, para fazer saladas e noodles. Já discutimos Fotografia e História, partilhámos aventuras antigas, anedotas, confindências, mirtilos e framboesas compradas numa paragem qualquer. Os quilómetros passam lá fora, o tempo aqui dentro: estamos finalmente na capital da Sibéria, Novosibirsk, no meio de Nada mas no centro deste nosso Universo, aqui e agora: chama-se Transiberiano.

 

2 comentários:

disse...

Que aventura :)

Clara Amorim disse...

Uuuups...! Lá se ia um aventureiro...! ;)