04/08/2013

OS REVOLUCIONÁRIOS DO SORRISO

No metro:

Uma senhora levanta-se e dirige-se para a porta. Vai sair na próxima estação, e fica parada à espera que a composição pare. A seu lado está um marinheiro musculado, de manga à cava às riscas azuis e brancas. Depois de um instante em silêncio, a senhora vence a timidez e resolve-se a dizer alguma coisa ao rapaz. Sorri enquanto fala, não entendo nada do que diz mas só pode ser algo simpático. Ele não reage. Continua a olhar para o infinito enquanto ela fala... e eis que a senhora percebe que o rapaz está a ouvir música nos headphones, por isso nem sequer a ouviu. Resultado: cala-se, triste. Abrem-se as portas e sai. Ele nem deu por nada, e desperdiçou-se aqui uma oportunidade de interacção, de boa vizinhança, de uma partilha genuína de sorrisos e boas energias.

Na Praça Vermelha:

"Enjoy Russia!", grita um russo para um franzino asiático. Mas fá-lo de tal forma que o turista se encolhe de medo, com medo de apanhar. Aliás: só lhe faltava mesmo acrescentar um "I command you!" ou "Now!"

Há quem tente, o que já não é mau... mas não lhes está no sangue.

Os grafittis com sorrisos espalhados por Moscovo, por exemplo: foram todos apagados. No ano passado decoravam a cidade e acrescentavam-lhe um brilho especial. Ainda só vi um, este ano, muito escondido, provavelmente escapou porque não deram por ele.

Há uma resistência enorme em sorrir, por estas bandas. Que pena. Mas há quem tente, aos poucos, contrariar as generalizadas trombas. E como sou um optimista: acredito que, passo a passo, Moscovo há-de aprender a sorrir.

Força aí, camaradas!

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Pois por aqui sorrimos sempre com as tuas crónicas...! :)