30/04/2015

PRIMEIRAS FOTOS DO FESTIVAL DE THRISSUR

Só para enquadrar um bocadinho a coisa: no primeiro dia cumprimos noventa quilómetros de mota, de casa do GK até à cidade de Thrissur. Era uma paragem planeada - daí termos ficado uns dias à espera até partir - porque tínhamos ouvido falar do Festival de Thrissur e queríamos dar uma espreitadela às emoções.

No entanto, nenhum dos dois fazia ideia do que nos esperava em Thrissur. Foi um "daqueles dias". Um acontecimento para lembrar o resto das nossas vidas. Um dia de emoções fortes, de apertos e arrepios, de um desconforto absoluto. Um dia de Índia, pura e dura, no extremo da sua beleza, agressividade, espontaneidade. Tudo é possível, aqui.

E prometo que vou tentar explicar um bocadinho mais o que é isto do Thrissur Pooram.

Por enquanto fica uma selecção de dez fotos tiradas ainda de manhã, na primeira parte do festival. Daqui a nada partimos outra vez, hoje fazemos apenas quarenta quilometros e amanhã espera-nos uma especial de montanha ;)

Já conversamos. Fui!





UMA ESPÉCIE DE RESSACA

Hoje de manhã acordei com a sensação de estar "de ressaca" - e, no entanto, ontem não bebi uma pinga de álcool.

Se eu disser que foi um dia intenso, estarei ainda longe da realidade. Sinceramente, ainda estou à procura das palavras que descrevam, com relativa justiça, tudo o que vivemos ontem, no festival de Thrissur. O calor e a humidade, as multidões compactas, o som constante dos tambores e trompetes, foguetes e where-are-you-froms. Os elefantes decorados, os chapéus-de-sol que são a marca do festival. Os sorrisos. O suor. A sede. O pó. O coração acelerado e os pelos dos braços eriçados. Que arrepio. Que experiência inacreditável.

A net não ajuda - está especialmente lenta hoje, provavelmente a ressacar também das emoções de ontem. Tanta gente. Tanta, tanta gente.

Estou a tentar seleccionar algumas fotos, entre as mais de quinhentas que fiz ontem. E se conseguir, daqui a nada partilho-as.

Bom dia!


29/04/2015

ABENÇOADOS

O dia em que finalmente comprei a minha Bajaj (uma vespa, em versão indiana) foi também aquele em que o Luís chegou; e, por coincidência, houve à porta de casa do nosso anfitrião uma procissão em honra de São Jorge. Entre tambores e cornetas, velinhas acesas e orações - houve muito fogo-de-artifício e música.

E fomos abençoados pelo padre da aldeia.

Não podia ter começado melhor.


UM ROLLS ROYCE... AMARELO-CANÁRIO?!


Desculpem-me o desvio - mas viajemos, por momentos, até ao início do século XX.

Imaginem o escritório do presidente da Rolls Royce. No meu imaginário posso desde já dizer que vejo um palácio vitoriano no centro de uma quinta clássica na Escócia, com o nevoeiro a espreitar atrás da floresta e uma oficina enorme ao fundo, onde são construídos os carros mais exclusivos do Mundo.

Estão a ver o presidente da Rolls Royce sentado na sua secretária? Está a actualizar o Facebook (no meu imaginário já havia facebook nesta altura, mas era a preto e branco e muito lento); quando de repente entra pelo escritório adentro um homem pequeno e com uma barriga enorme, chega ofegante e com a testa a suar, como se tivesse atravessado a correr todo o relvado que separa o palácio do portão. Traz uma carta na mão:

"Senhor Presidente, acabámos de receber uma carta da Índia, e traz no selo o brasão de um rei."

O presidente levanta-se e estende solenemente o braço, recebe o envelope e abre-o no mesmo instante. Lê-o em silêncio. Não revela qualquer emoção. O homem que trouxe o envelope ainda não recuperou o ritmo normal da respiração; e tal qual uma estátua, mantém-se no lugar de onde nunca saiu este tempo todo. Não se atreve a retirar-se, seja por respeito ao homem que tem à sua frente, seja porque está curioso com o conteúdo da carta.

"Chama o William", é a única coisa que o outro diz, com um sotaque britânico mais cerrado que o nevoeiro em volta da quinta.

O William é o responsável pelo departamento de encomendas especiais. Em poucos minutos está sentado em frente ao presidente - incrédulo com aquilo que este lhe pede:

"Um Rolls Royce amarelo-canário?!"

"É o que ele quer, William."

"Mas amarelo-canário... e com uns rebordados a ouro? Isto não faz sentido! Nós somos a Rolls Royce, nós não fazemos carros amarelo-canário!"

"Meu caro... se o Nizam de Hyderabad quer um Rolls Royce amarelo-canário, nós fazemos um Rolls Royce amarelo-canário."

"Com todo o respeito, presidente..."

"Senhor presidente."

"...senhor presidente. Desculpe. Com todo o respeito, mas nós somos a Rolls Royce, não somos a Porsche ou a Ferrari, ou a Hummer."

"Quem?"

"Não interessa. Nós fazemos carros clássicos, senhor presidente. A Rolls Royce é um símbolo de excelência, é uma referência - nós não fazemos brinquedos amarelo-canário com rebordos a ouro e sei lá o quê de marfim e cristal. Nem para o Nizam de Hyderabad"

Desconheço o destino do William. Se foi despedido ou não, ou que argumentos o convenceram a eventualmente mudar de ideias. Ou se calhar nunca existiu William nenhum - nem esta conversa. Afinal, esta história é fruto da minha imaginação. Mas não me admirava nada se uma discussão destas tivesse mesmo acontecido.

O facto é que existe hoje, em exposição no Palácio Chowmahalla, em Hyderabad, um Rolls Royce Silver Ghost Throne amarelo-canário com rebordos a ouro e mais-sei-lá-o-quê em marfim ou cristal, nem sei bem. Foi encomendado em 1911 por Mehboob Ali Khan, o VI Nizam de Hyderabad - e entregue ao seu filho, Mir Osman Ali Khan, que era na altura o homem mais rico do Mundo.

E esta, hem? ;)

Mas Hyderabad foi há mais de uma semana atrás. Como sabem, estou no Kerala. Depois de vários dias à procura de uma Vespa, lancei-me à estrada com o Luís Simões do World Sketching Tour, às voltas pela Índia... de mota. Ainda agora começou e já temos tanto para contar. Estejam atentos!

28/04/2015

BOA SORTE!

Quando estava a autenticar as fotocópias dos documentos da minha Bajaj, descobri que a mota foi registada há exactamente dezasseis anos. Não - estou a mentir. Os dezasseis anos foram ontem. Vinte e sete de abril de mil novecentos e noventa e nove.

E por falar em coincidências: pouco depois de partirmos, soube que hoje é o Dia Mundial do Sorriso. Que feliz efeméride, esta que se comemora no início da Aventura Que Se Segue.

Mas como se não bastassem estas, hoje quando nos sentámos para almoçar num restaurante, serviram-nos uma garrafa de água da marca "Good Luck".

Curiosidades, Coincidências, Coisas-que-não-interessam-para-nada.

Mas eu gosto destes pequenos Nadas, permitam-me o cliché mas acho mesmo que são o colorido extra desta viagem que é a Vida.

PARTIDA.... LARGADA...

Estava difícil de arrancar, mas finalmente conseguimos partir. Depois de voltas e reviravoltas à procura de uma mota; e de dezenas de programas com os amigos locais, à mistura com dezenas de tentativas de pôr em ordem o que precisava de pôr em ordem; e hoje de manhã ainda fui fazer fotocópias de documentos e autenticá-las no notário, mais o teste da poluição... estava mesmo difícil.

Mas arrancámos!

Não foi às oito nem às nove da manhã, como gostaríamos. Nem às dez ou às onze, como já estávamos à espera. Foi ao meio dia. Mas foi.

Tirámos uma foto com o GK, o nosso incansável anfitrião, e seguimos os dois pela estrada que serpenteia entre árvores da borracha e plantações de ananás - a apitar e a rir.

Que loucura! Começava finalmente esta aventura que se espera emocionante, sabe-se lá quantos quilómetros, três, quatro, cinco mil. Quantas peripécias nos esperam? Quantos sustos e que surpresas, que...

...e de repente!

De repente, nem quinhentos metros tínhamos andado.

A minha mota: foi abaixo.

A sério?!

Gasolina. Acabou-se a gasolina. Isto não pode ser verdade. Que pontaria. Mas convenhamos: podia ter sido pior. Sempre a rir, virei a "pipeta" para a reserva e peguei a vespa de empurrão - e lá fomos. Agora sim. Primeiro até à bomba; e depois até Thrissur, a noventa quilómetros.

Vrrruuuuummmmm!

COMO É QUE SE DIZ VRRRUMMM EM HINDI?

Já arrancou.

Andava eu aqui em slowmotion, a gerir o que partilhava ou não partilhava... mas agora posso revelar a novidade: uma nova aventura começou hoje. Eu e o Luís Simões do World Sketching Tour, em duas Vespas, pela Índia fora. Dois meses, pelo menos. Para mim, que tenho o calendário mais apertado. Ele já anda nisto há mais tempo... e ainda por cá fica, depois de eu me ir embora.

Não temos nome oficial para o projecto - ainda!-, não temos uma linha orientadora para além de ser uma viagem de mota, nem destino marcado nem missões nem nada. Vamos à aventura. Pura e simplesmente à aventura.

Na Índia, tudo é possível.

E se no arranque já trazemos uma bagagem de histórias novas, imaginem o que para aí vem. Estejam atentos aqui no blog e no facebook - tanto no meu, como no do World Sketching Tour.

27/04/2015

:(

Nem sei bem o que dizer.

Tão tristes, as notícias que chegam de Kathmandu.

Que pesadelo, esta inimaginável tragédia.

A Nomad tem sido incansável ao garantir um acompanhamento contínuo do desenrolar da situação no Nepal, através de alguns contactos no terreno. Sigam o perfil @nomad_viagens no Twitter e saibam também como podem ajudar, mesmo longe.

ATÉ JÁYDERABAD

Curioso como um sítio-nada-de-especial pode, só pelas experiências e memórias, deixar Saudade.

Por um lado não me parece que volte tão depressa a Hyderabad - mas tendo a oportunidade, porque não? Nem que seja só para dar um abraço. Vale o desvio.

Por enquanto despeço-me com um Até Já - e mais um conjunto de fotos.

Próxima paragem: Cochim.







ANDO AQUI COM UMAS IDEIAS...

Meti na cabeça que quero comprar uma mota na Índia.

E, claro: tem de ser uma Vespa. Mania esta, está-me no sangue, é de família.

Enfim. Nos primeiros dias ainda perguntei a este-e-aquele, consegui alguns contactos, fiz telefonemas, fui ver motas. Nenhuma me impressionou por-aí-além. Ou então era muito caras. Ou não tinham papéis. Havia sempre algo de errado.



Ao fim de algumas tentativas, desisti.

Desisti de comprar mota em Hyderabad. O que não quer dizer que não a compre noutro lugar da Índia. Segue-se o Kerala, vou para Cochim... algo me diz que é aqui que vou comprar a minha vespa indiana. ;)



HYDERABAD, DEZ ANOS DEPOIS


Passaram-se dez anos desde essa primeira (e pouco convincente) passagem por Hyderabad.

Desta vez fiquei uma semana. Não porque a cidade fosse de uma beleza extraordinária e com uma oferta cultural única. Fiquei... porque fui ficando.

O plano inicial era passar aqui três dias e seguir para o Kerala. Mas os acontecimentos em Cochim foram alterados. E meti na cabeça que ia comprar uma mota em Hyderabad. E fiz novos amigos que me levaram a passear. E comi o melhor biryani do Mundo.

Enfim: fui ficando.

Visitei finalmente o Charminar, o tal ex-libris que mencionei no post anterior. Explorei também as ruínas de Quli Qutb Shahi, um conjunto de túmulos reais interessante.

Entre passeatas e boa-vida, alguma preguiça e peripécias - e muita conversa, pois claro! - ficam boas memórias de uma cidade que afinal também pode surpreender. E algumas fotos também:











REGRESSO A HYDERABAD (UMA VIAGEM NO TEMPO)

Fui dar uma volta ao blog e encontrei a crónica que escrevi sobre Hyderabad, há dez anos, quando ali estive pela primeira vez. Dez anos! O tempo voa.

Pelos vistos foi uma passagem rápida, que pouco me impressionou.

Passeei por Golconda e visitei o Jardim Zoológico, fui a uma espécie de parque temático, comi biryani. Dois dias bastaram. Mas nem sequer vi o Charminar - o ex-libris da cidade que é um dos mais importantes monumentos da Índia. E um dos motivos que me fez voltar aqui. Ficam algumas fotos: